Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

12-08-2010 02:12

 

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem de psicoterapia que parte do princípio de que nossas cognições (pensamentos, formas de interpretar o mundo) interferem na maneira como nos sentimos e nos comportamos. De acordo com Dobson e Dozois (2006, p. 17) a TCC tem alguns pressupostos:

 

(1)   “A cognição afeta o comportamento” (nossos pensamentos alteram nosso comportamento).

(2)   “A cognição pode ser monitorada e alterada” (podemos prestar atenção em nossos pensamentos, anotá-los, analisá-los e modificá-los).

(3)   “A mudança comportamental pode ser efetuada por meio da mudança cognitiva” (a maneira de agirmos perante as situações pode modificar a partir do trabalho com a reestruturação dos pensamentos).

Vamos a um exemplo para ficar mais claro. Suponha que você tem muito medo de falar em público. Para seu desespero, você tem que apresentar um seminário na faculdade (ou escola, trabalho, curso etc). Caso você não o apresente, ficará prejudicado (a). Apenas pelo fato de saber que terá que apresentar você pensa: “será um fracasso total” ou “irei gaguejar”. Isso faz com que se sinta muito ansioso (a), nervoso (a), tenso (a). Imediatamente seu corpo responde e você sente dor de barriga e o coração palpitar. Desesperado (a), você foge da apresentação ou a encara. Supomos que resolveu encará-la. No momento em que começa a falar vê duas pessoas cochichando e rindo baixo nos lugares de trás. Imediatamente pensa: “estão rindo de mim” ou “estou fazendo um papel ridículo”. Você sente mais nervosismo, seu corpo reage com muito suor, palpitações e tremor, sua boca seca e sua memória falha. Você fica mudo (a). Este exemplo ilustra exatamente o modelo cognitivo que explicita a ligação que há entre as situações nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos/reações fisiológicas.

  

Os pensamentos automáticos são os meios através dos quais o terapeuta acessa o pensamento mais “profundo” ou “arraigado” que diz respeito às nossas regras e estrutura da personalidade. Segundo a TCC, nestas regras e crenças reside a maior parte do problema. A mudança dessas estruturas demanda tempo e paciência e é feita a partir de muito trabalho.

 

 

 

Mitos sobre a TCC

 

Ocasionalmente, algumas pessoas fazem algumas críticas relacionadas à abordagem cognitivo-comportamental que nem sempre são bem fundamentadas.

A seguir estão alguns dos mitos e suas devidas respostas.

 

·         A TCC é superficial

Não é verdade, uma vez que a mudança comportamental promovida pela TCC é acompanhada de um trabalho rigoroso de reestruturação das crenças centrais que são rígidas e profundas (vide tópico anterior). Deste modo, o que é modificado não é somente o comportamento e sim a forma de enxergar eventos da vida que, ao início da terapia, está distorcida.

 

·         A TCC desconsidera a subjetividade

 

Esta crítica também não procede já que o que ocorre em um processo de terapia cognitivo-comportamental bem feito é a adaptação da teoria e das técnicas à pessoa atendida e não o contrário. Deste modo, cada indivíduo receberá um tratamento personalizado de acordo com seus problemas particulares.

 

·         A TCC governa a vida do indivíduo

 

O terapeuta cognitivo-comportamental não tem por objetivo dar conselhos ou dizer o que deve ser feito e sim trabalhar colaborativamente com a pessoa atendida de modo a se chegar reflexões adequadas para os problemas apresentados. Cabe ao terapeuta saber selecionar as técnicas ou intervenções mais indicadas para cada caso.

 

·         A TCC depende de diagnósticos

 

Apesar de muitos terapeutas que trabalham com a TCC fazerem parcerias com psiquiatras e atenderem casos já diagnosticados, não são somente esses que são trabalhados por um terapeuta cognitivo-comportamental. Pessoas com problemas de relacionamento, dificuldades em lidar com sentimentos, com problemas de auto-aceitação, assédio moral e outros problemas dentre os mais variados que podem afetar a saúde mental.

 

 

·         A TCC é racional demais e lida pouco com as emoções

 

Através da análise do modelo cognitivo já exposto anteriormente, podemos perceber que esta afirmação não procede, pois a TCC lida com as emoções constantemente, uma vez que estão ligadas aos pensamentos que, por sua vez, são bastante trabalhados.

 

 

·         A TCC condiciona pessoas

 

Esta crítica vem, provavelmente, das pessoas que relacionam a TCC com a psicologia estímulo-resposta (psicologia S-R) e com alguns conceitos isolados do behaviorismo. O objetivo da TCC não é condicionar pessoas e sim ajudá-las a chegar a metas que elas mesmas colocam no início da terapia. Os meios através dos quais se alcançam as metas depende de um caso para o outro. O terapeuta deve ser capaz de estabelecer uma boa relação com a pessoa atendida e utilizar seu conhecimento a favor do sucesso da terapia. Ao atendido cabe comparecer às sessões, realizar as atividades propostas e trabalhar com o terapeuta nas sessões (trabalho colaborativo).

 

·         A TCC é baseada apenas em um conjunto de técnicas

 

Não é verdade. As técnicas são parte essencial do conhecimento de um bom terapeuta cognitivo-comportamental. No entanto, saber aplicar as técnicas adequadamente e estabelecer uma boa relação com a pessoa atendida também é fundamental. Além disso, não se aplica técnicas o tempo todo.

 

·         A TCC exige compreensão sobre seu modelo e, por isso, é complicada

 

É verdade que a TCC exige compreensão de seu modelo, mas não é complicada. Isto porque a explicação do modelo cognitivo pode ser feita de forma simples, como foi feito através do exemplo dado acima. Outros meios como ilustrações, textos explicativos ou dramatizações podem ser utilizados com o objetivo informativo.